O MALOCA – Grupo de Pesquisa em Arquiteturas e Urbanismos do Sul tem atuado desde 2013, sob a coordenação de Andréia Moassab e Céline Veríssimo, a partir das necessidades prementes de buscar respostas a questões na área, voltadas para o contexto de ensino, hábitos de morar e construir, políticas públicas e direitos humanos, sob uma perspectiva decolonial, feminista, antirracista e anticapitalista com ênfase na América Latina e no Sul global. Com vistas a uma arquitetura da autonomia na América Latina e no Caribe, o MALOCA possui três linhas de pesquisa: (1) Ensino de Arquitetura e Urbanismo na América Latina; (2) Hábitos de morar e de construir no contexto latino-americano e (3) Políticas públicas, território, direitos humanos e sociais. O grupo de pesquisa forma uma rede internacional de aproximadamente 20 pesquisadores e pesquisadoras de instituições em diversas regiões do Brasil: UFC, UFBA, UFMG, UFOP, UFSJ, UTFPR, UNIFESP, e ainda pesquisadoras da Bolívia e de Cabo Verde, consolidando o diálogo de saberes a partir do Sul. Originário do quadro docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNILA, atualmente está vinculado também com os programas de pós-graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento e em Integração Contemporânea da América Latina, ambos na mesma instituição.
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Em 2017, foi realizado o I Encontro Internacional do MALOCA, com o objetivo de apresentar os resultados do seu primeiro triênio (2014-2016) e debater os rumos das pesquisas do grupo para o triênio 2017-2019. O encontro reuniu, em Foz do Iguaçu, pesquisadores e pesquisadoras nas diversas áreas de conhecimento que tratam tecnologias, políticas públicas e direitos humanos, junto a integrantes do grupo de pesquisa não residentes na região, para um balanço do triênio e formulação de uma nova agenda de pesquisa e reflexão para os anos seguintes.
No mesmo ano, uma das pesquisas realizadas no âmbito do MALOCA, sobre as espacialidades afro-latinas, esteve presente na XX Bienal de Arquitectura de Chile, tendo sido considerado um dos vinte trabalhos mais relevantes da bienal e, por este motivo, foi levado à XXVI Asamblea de Ministros y Máximas Autoridades de Vivienda y Urbanismo de América Latina y el Caribe – MINURVI, que ocorreu em Buenos Aires
Em paralelo e imbricado às questões étnico-raciais, o MALOCA tem problematizado o debate sobre tecnologia, o qual, equivocadamente, se reivindica, na maior parte das vezes, como neutro. Com vistas a desconstruir tal premissa hegemônica e vislumbrar outros caminhos para as tecnologias, mais inseridos nas demandas sociais e relacionados às distintas realidades culturais, econômicas e materiais, o MALOCA organizou em 2015 e em 2018 a I e II Jornada Ciência, Tecnologia e Sociedade, na UNILA. A primeira teve como centralidade “Habitação, desenvolvimento territorial e tecnologia social na região transnacional”. Na segunda edição, o eixo temático foi “Geopolítica do conhecimento, dependência e colonialidade na América Latina”. Ambas jornadas foram amparadas pelos projetos de extensão que vimos realizando junto às comunidades locais, reafirmando a importância da práxis para o fazer-pensar arquitetura e recuperando um projeto classista para a área, no qual reivindicar a inserção social da tecnologia é fulcral. Tais questões alimentaram e também foram alimentadas pelo I Encontro Internacional do MALOCA.
Em 2022 e 2023, o MALOCA realizou a exposição internacional Arquitectura Habitacional de la URSS: Concurso entre Camaradas 1926. Fruto de uma parceria entre o MALOCA – Estudos Multidisciplinares em Urbanismos e Arquiteturas do Sul (Brasil) e os grupos BAI – Brigada Acadêmica Interdisciplinaria, da UAM Azcapotzalco (México) e Taller Libre de Proyecto Social, da UBA (Argentina), a exposição trouxe um material inédito para a América Latina. Os oito projetos expostos integram o concurso organizado pelo OSA – União dos Arquitetos Contemporâneos, em 1926. As respostas arquitetônicas exploram cozinhas e lavanderias coletivas, creches, salas de estar e quartos de hóspedes comuns, entre outros, conforme as propostas dos arquitetos e arquitetas Moisei Ginzburg; Georgi Vegman; Vyacheslav Vladimirov; Nina Vorotyntseva; Raisa Polyak; Alexander Nikolsky; Andrey Ol; Alexander Pasternak; e Ivan Sobolev.
Um tema mais que atual, revisitar a arquitetura habitacional na URSS é crucial para o debate sobre o direito à cidade e sobre as clivagens de gênero em arquitetura, questão esta também tributária do debate soviético daquele período. Por meio de um processo colaborativo no Brasil, o MALOCA levou a exposição a mais de 15 cidades de todas as regiões do país. Em breve, será lançado um livro com todo o debate propiciado por este projeto.
Em simultâneo e em continuidade, promovemos com frequência seminários, mesas-redondas e cursos. Também estamos presentes no território trinacional por meio de diversos projetos de pesquisa, ensino e extensão. Estas atividades têm sido a base de diversas publicações acadêmicas e populares que podem ser conferidas no site.
Linhas de pesquiSa
Ensino de Arquitetura e Urbanismo na América Latina
As perguntas centrais a responder são: qual o projeto para a arquitetura e urbanismo deste século? Quais as diferenças, semelhanças, continuidades e rupturas com o modelo anterior? Como a arquitetura moderna lidou com os desafios e contradições de seu tempo? Propomos uma reflexão sobre como contexto histórico-político contemporâneo, a partir da América Latina, em diálogo com o Sul, pode colaborar para uma gama diversa de desafios e, portanto, capaz de arejar o campo disciplinar e seu ensino.
Hábitos de morar e de construir no contexto latino-americano
Identificar a diversidade de hábitos de morar e de construir no contexto latino-americano, com ênfase nas tecnologias sociais e, num primeiro momento, nos territórios e arquiteturas afro-latinas. Trata-se de fazer emergir, valorizar e registrar como saber arquitetônico, as ocas indígenas, as casas quilombolas, as flutuantes ribeirinhas, as vilas de pescadores, as casas caiçaras e todo o vasto leque de tipologias construtivas no sub-continente.
Políticas públicas, território, direitos humanos e sociais
Trata-se de verificar a produção do espaço e do territórios do Sul, a partir uma perspectiva alargada dos direitos humanos. Com ênfase na América Latina, direito ao território, moradia, educação, saúde, alimentação e soberania alimentar. O modelo colonial de ocupação do território é historicamente masculino, branco e metropolitano, excluindo e subalternizando mulheres, negros/as e indígenas, os/as quais vivenciam distintamente o território, o acesso a políticas públicas e aos direitos.