1ª Edição

Viver, comer, lembrar

Cozinhar, preparar um alimento é uma arte, dizem, não é mesmo? É uma arte que tem a ver com mistura: misturamos ingredientes, cores e, depois, sabores e emoções, lembranças também.  E quando se misturam pessoas, como é o caso da Vila C? Ah, então, é um prato cheio! Vamos sentir um pouco do cheiro e do gostinho das comidas da Vila?

Dona Suzinei não pode deixar de lembrar: “A gente tinha os costumes de comer do pernambucano: arroz, muito feijão, carne cozida com batata, não é? Frango com batata!”. Mas a sua vizinha, dona Matilde vem de outro lugar e, assim… “Eu já era daqui, minha descendência é argentina, então, eu já cresci comendo feijão, arroz, carne. E como era fronteira, minha avó atravessava muito e a gente comprava mais barato na Argentina. Não tinha a ponte ainda, era balsa. Comprava muita farinha, macarrão, aquele queijo enlatado, queijo prato ou cheddar era em latas de dois quilos. A gente abria e pegava uma colherada de queijo, minha mãe falava que a gente ia comer tudo de uma vez, ainda tenho saudade! Então são esses os costumes daqui mesmo já”.

Que lembrança gostosa! Mas tem outras histórias e dimensões que se misturam, como conta dona Antônia M. Zanella: “Meus hábitos são normais do nosso Paraná, que é arroz, feijão, salada, verdura, carne, essas coisas naturais. Mas a alimentação mudou bastante, antigamente talvez a gente fosse um pouco mais naturalista principalmente as crianças, hoje eu conservo um pouco meus hábitos de alimentação, mais hoje você vê que as crianças, mesmo que tenham aprendido a comer arroz, feijão, macarrão, coisas bem naturais de antigamente, hoje elas gostam mais de hamburguer, x-salada. Então nesse sentido mudaram bastante os hábitos alimentares, crianças comerem mais chips do que comida”. Dona Natércia tem a mesma opinião: “Eu creio que não, antigamente a gente era mais aquela comidinha caseira né? Comia em casa, não tinha mesmo como ser diferente, porque a Vila C era muito longe do centro da cidade, não tinha tanta coisa assim que a gente pudesse sair para comer toda noite. Hoje em dia, eu observo que é mais fast food, as pessoas não se alimentam tanto em casa, é tudo aquilo mais corrido, né? Eu mesma, eu trabalho o dia inteiro, então eu pego marmita, quase não cozinho. Quando eu estou em casa, eu pego marmita também para não cozinhar; e a noite  geralmente não é mais janta, que era aquela coisa da família sentar na hora do almoço, sentar na hora da janta, agora não… é lanche rápido também, então eu acho que teve uma mudança bem grande de antes para agora.

Mais mistura! Que venha, então! Não é, dona Maria Teresa? “É tudo misturado, acredito que é um bairro  que abrange gente diferente, alimentação também. Por exemplo, eu amo comida árabe, mas não quer dizer que seja a minha favorita, então tem muito essa mistura; cada um traz sua cultura e nós nos vamos adaptando na cultura de cada um de nós tanto que um passa a nossa cultura para os outros”.

Dona Antônia M. Zanella

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