1ª Edição

Madeirão e Madeirinha

Moradores contam um pouco sobre as antigas Unidades de Saúde que atendiam a população no tempo da construção da Vila C.

Toda História narrada por pessoas mostra o encontro entre as vidas particulares, privadas, dessas pessoas e das suas famílias, e o contexto mais geral. Mas quando se trata de saúde, a impressão que se tem é a de um vínculo mais forte ainda. Se queremos, aqui, contar sobre as estruturas, as formas, os problemas do atendimento à saúde das pessoas que moram na Vila C, desde a criação do bairro até hoje, o que mais vai aparecer com grande destaque, são justamente elas – as pessoas. E as suas histórias. E – quem diria? – é uma história de… madeira! Madeira? Sim! Vamos ver, então!

Todas as pessoas, ou quase, lembram dela, aliás, deles. Como dona Maria Alice: “O Madeirinha era na vila A e o Madeirão era aqui, onde já tem o posto de saúde. Era de madeira né, mas parece que pegou fogo depois que foi acabando a obra, aí eles construíram de material. Mas a gente ia lá, mulher que tinha que ganhar neném, já consultava ali e a ambulância já levava pra Vila A. Não ganhava neném aqui não”. 

Mais detalhes? Com dona Natércia: “A UBS era o hospital da Itaipu, Madeirão, se chamava, porque o Madeirinha era lá na Vila A e o Madeirão era aqui na Vila C. Aí a UBS de agora era esse Madeirão, só que era muito mais novo, muito mais equipado, realmente era um hospital! Eu me lembro de me vacinar lá, todas as minhas vacinas foram feitas lá, atendimento médico, exames que a gente precisava, era tudo aqui na vila C. Também seu Edson lembra bem: “ Tinha ali onde é o posto de saúde, do lado ali era um hospital, era chamado de Madeirão, e lá na Vila A tinha o mesmo hospital só que era chamado de Madeirinha. Coisas da época! Então era muito bom, tinha tudo, a gente não precisava sair daqui. Tinha dentista, clínico geral, médico pra todas as áreas, então nesse ponto a Vila C realmente era uma ilha, a gente não precisava muito ir pro centro”.

E dona Matilde: “Era no Madeirão que a gente se consultava. A Santa Casa atendia as pessoas que tinham dinheiro para pagar o particular e os que não tinham dinheiro, era como se fosse um SUS, e também não pagava nada. O particular existia lá dentro da Santa Casa que era caro igual um hospital particular hoje. Mas nós, e os funcionários de Itaipu chegávamos lá e éramos muito bem atendidos. Você tinha o número, tinha os cartões, tudo era da Itaipu. Tinha a carteirinha. Era Madeirão aqui perto do postinho da Vila C e Madeirinha lá na Vila A. Eu tenho saudade de dizer aos filhos que qualquer coisinha que tinha lá era o melhor atendimento, os melhores médicos”. E dona Suzinei reforça: “É. E daí quando você ia para fazer consultas ia  pra cá, no da Vila C e quando você sentia que a doença era mais grave e que precisava ser internado ia para o que ficava na Santa Casa. Eu tenho saudade, hoje, da carteirinha da Itaipu, porque você ia no hospital e era bem tratada, e não precisava pagar nada e ainda quando precisava comprar algum remédio por exemplo, você comprava esse remédio e a Itaipu repõe”. 

Não tem jeito: quando se sente saudade é porque era bom mesmo, não é? E a comparação com o presente é um pouco desanimadora, às vezes.

Dona Suzinei continua: “Naquela época você ficava doente e ia lá, já era atendido,  nem voltava pra casa e agora deu essa relaxada, agora são muitas pessoas para pouco hospital e para  pouco médico. O atendimento ali no postinho antigamente era assim, o médico era manhã e  tarde. Agora eu moro na rua Curitiba, mas só vão me atender à tarde. Se eu estiver mal de manhã, por que ele vai me atender só a tarde? Ou só vão me atender no mês que vem, não é justo isso. E agente de saúde não existe mais não. Não passa mais não. Na minha rua pelo menos não passa. Lá na minha rua nunca mais passou. Passa quando tem pessoas hipertensas, diabéticas. Ana Caroline Gomes Stefanelli nos convida a olhar para frente: “precisa de coisas novas, assim de manter mais a saúde até mesmo pelos profissionais, porque eles cansam, né? Às vezes não têm nem vida, só trabalham lá, para poder dar conta da demanda”.

E o reforço de dona Matilde é para a Gazeta: “Vocês vão colocar num jornal, e é bom por isso vamos falar coisa que é não fake né?”

Edson Alencar Farias

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