4ª Edição

Uma reflexão sobre o envelhecimento

O aumento da população idosa é um fato que merece atenção em nossa cidade. Todos nós, enquanto membros da comunidade, devemos nos dedicar para assegurar que nossos idosos envelheçam com qualidade de vida.

A participação social dos idosos, ou seja, a integração deles com a comunidade, é fundamental para enfrentar os desafios do envelhecimento. Este fenômeno, presente em todo o mundo, tem impactos diversos no Brasil, com estados do Sul e Centro-Oeste apresentando maior número de idosos em comparação com o Nordeste e Norte.

O aumento da população idosa traz desafios para o sistema público de saúde, que precisa lidar com uma maior demanda por cuidados, especialmente relacionados a doenças crônicas não transmissíveis, que são aquelas que se desenvolvem devagar, muitas vezes relacionadas a hábitos de vida, como problemas no coração, câncer, doenças respiratórias e diabetes. Com o avanço da idade, os sistemas do corpo humano tendem a reduzir a capacidade de realizar suas funções com a mesma eficiência de quando eram jovens.

Essas mudanças justificam a ocorrência da sarcopenia na população idosa, quando os músculos do corpo enfraquecem e diminuem, algo que geralmente ocorre com o envelhecimento. Os efeitos negativos da sarcopenia têm sido associados ao aumento de quedas em pessoas idosas, contribuindo para o aumento da mortalidade em idosos que têm quedas recorrentes.

É importante destacar que muitos dos problemas de saúde na comunidade geriátrica estão relacionados aos estilos e condições de vida, considerando todas as fases da vida humana, desde a infância até a velhice.

A prática de atividade física, de acordo com a capacidade e necessidade de cada um, é a principal intervenção que não envolve o uso de medicamentos, e ajuda a prevenir quedas em pessoas idosas. Um idoso que se exercita possui melhor equilíbrio e também se move melhor. Isso ajuda a retardar o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis e, consequentemente, é um fator determinante para a redução de custos assistenciais por problemas que exigem acompanhamento contínuo e a longo prazo.

Estar ativo na velhice relaciona-se à qualidade de vida, incluindo aspectos como melhora do padrão de sono e da disposição, melhor do vínculo com a comunidade, melhor percepção e satisfação com as práticas sexuais, maior autonomia nas tarefas diárias e melhor desempenho no mercado de trabalho.

De maneira geral, idosos que relatam uma melhor qualidade de vida acabam tendo menos quedas e, quando elas ocorrem, apresentam uma capacidade de recuperação mais rápida e menor chance de mortalidade.

O conceito de autonomia está diretamente relacionado ao conceito de bem-estar. Conquistamos autonomia, por exemplo, quando chegamos à vida adulta e deixamos a casa de nossos pais. Um idoso é considerado autônomo quando é capaz de realizar atividades básicas, instrumentais e avançadas da vida diária, mesmo que precise de algum auxílio. A autonomia abrange a saúde física, mental e social da pessoa idosa, sendo fundamental para a tomada de decisões, facilitando ou limitando escolhas e desejos, promovendo a construção da identidade da pessoa idosa de acordo com suas vontades e anseios.

A participação social está muito ligada ao bem-estar e à autonomia, e não é algo simples, pois depende de outras questões como renda, boas relações com família e vizinhos, acesso à saúde e etc.

A participação social pode se manifestar de diversas formas, e é direito fundamental da pessoa idosa, protegido pelo estado por meio de programas específicos para a terceira idade.

Os grupos de atividade coletiva para a população idosa buscam fortalecer 

a autonomia, prevenindo o isolamento 

social e proporcionando conhecimentos importantes sobre saúde e bem-estar. 

No foco institucional dos serviços de saúde, existem grupos de convivência para idosos ligados à Estratégia Saúde da Família (ESF), visando principalmente promover hábitos e estilos de vida saudáveis na comunidade geriátrica. A ESF, que é colocada em prática nas unidades básicas de saúde, é uma forma de acompanhar e aproximar os serviços de saúde da realidade do idoso e de sua família. Isso facilita o acesso e aumentar o vínculo do idoso com a equipe de saúde. Esse modelo assistencial também tem o potencial de provocar mudanças nas práticas no cotidiano dos profissionais de saúde com a população envelhecida.

O estreitamento entre grupos de convivência e ESF traz efeitos positivos, como o acompanhamento de doenças crônicas, registrando maior adesão às consultas médicas e ao seguimento das orientações repassadas pelas equipes de saúde. Isso pode contribuir para a elaboração de estratégias educativas, promovendo a saúde e o autocuidado, controlando a obesidade e melhorando a qualidade de vida. Além disso, auxilia no combate à depressão e a certos distúrbios emocionais, bem como na conscientização do uso adequado dos medicamentos e seus efeitos adversos.

Autor: José Alexsandro, 

médico da Atenção Primária à Saúde

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